Trajetórias
Graduou-se pela Faculdade de Medicina da USP em 1980, ano em que atuou voluntariamente no Campus Avançado em Marabá (PA), experiência que despertou seu interesse pelas doenças infecciosas e pela interface entre saúde, determinantes sociais e meio ambiente. Após a graduação, chegou a fazer diversas disciplinas no curso de Ciências Sociais na FFLCH-USP, enquanto já se dedicava à residência em Doenças Infecciosas e Parasitárias no Hospital das Clínicas da FMUSP. Essa experiência lhe forneceu perspectivas humanísticas que continuam a orientar sua atuação. Contratado como docente no Departamento de Medicina Tropical da FM em 1983, ainda como Auxiliar de Ensino, tornou-se, posteriormente, coordenador do projeto Campus Avançado. Teve participação ativa no enfrentamento da epidemia da infecção por HIV no Brasil, desde seu início, conciliando o cuidado dos pacientes, com a ciência e a responsabilidade social. Realizou mestrado, doutorado e estágios internacionais, incluindo período no Japão, consolidando carreira acadêmica marcada pela produção científica e pela integração de pesquisa e prática médica no cuidado de pessoas vivendo com HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. Orientou diversos mestres, doutores e pós-doutores. Obteve a Livre-Docência em 2001, concluiu estágios de Pós-Doutorado no exterior e conquistou o cargo de Professor Titular da FMUSP em 2012, desempenhando ao longo da carreira funções de destaque na FM, no HC e na universidade. Foi Chefe de Departamento, Coordenador das Residências Médicas, Presidente da CPG e da Comissão de Relações Internacionais da FM; Vice-Reitor Executivo de Relações Internacionais, o primeiro Coordenador do Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico e Pró-Reitor de Graduação da USP, funções em que aprimorou processos acadêmicos, ampliou parcerias nacionais e internacionais e contribuiu para a modernização da gestão universitária. Sua trajetória combina sólida formação técnica com experiência institucional estratégica, tendo exercido papel decisivo como diretor do Instituto Central do Hospital das Clínicas durante a pandemia da COVID-19, quando coordenou respostas a um dos maiores desafios sanitários da história recente. Com atuação que integra excelência acadêmica, experiência de gestão e compromisso social, consolidou-se como referência na infectologia e saúde pública, ensino superior e governança institucional, simbolizando a convergência entre formação médica, pesquisa de ponta, visão universitária e responsabilidade cidadã.


Filho mais velho de Arthur e Cora, nasci em São Paulo, ainda durante a vida acadêmica de meus pais, ambos alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP).


Iniciei meus estudos na escola pública. Cumpri o curso primário e o ginasial no Instituto de Educação Caetano de Campos, escola ao mesmo tempo tradicional e renomada pela qualidade do ensino que ministrava, instalada no velho prédio da Praça da República.


A vida universitária foi enfim uma enorme e feliz descoberta. Empolgava-me o contato com os novos colegas, as idas ao campus da Cidade Universitária, as competições esportivas da Atlética, que eu acompanhava como fiel torcedor, as apresentações musicais do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) e a dramaturgia do Grupo de Teatro da Medicina (GTM), além da movimentada política estudantil.

Participei de estágio opcional de internato no Campus Avançado da USP, em Marabá. Percebi que, no cuidado a pessoas acometidas de doenças infecciosas deve o médico alongar seu olhar para além do paciente, buscando identificar possíveis determinantes socioambientais da doença, para sobre eles também intervir. Materializava-se assim para mim o dever do médico aliado ao exercício da cidadania.


Decidido a cursar a Residência Médica em Doenças Infecciosas e Parasitárias, ingressei no Programa do Hospital das Clínicas da FMUSP em 1981. Paralelamente prestei novo vestibular e iniciei o Curso de Graduação em Ciências Sociais na FFLCH da USP. Almejava assim aprofundar minha formação técnico-profissional e ao tempo adquirir formação humanística de maior vulto, faces que julgo complementares para o bom exercício da Medicina.
Participei do Curso de Especialização em Medicina Tropical, em que pude reciclar de forma sistemática e minuciosa os conhecimentos de microbiologia, imunologia e de parasitologia médicas.
Ao final desse período, senti-me surpreso, mas ao mesmo tempo profundamente honrado, ao receber convite do Professor Mario Shiroma para ingressar na carreira docente, assumindo uma vaga de Auxiliar de Ensino, em regime de dedicação integral à docência e pesquisa (RDIDP), junto ao então Departamento de Medicina Tropical e Dermatologia da FMUSP.
Com o exemplo do Prof. Shiroma, compreendi a importância do envolvimento docente em todos os aspectos da atuação da Universidade: o ensino, a pesquisa e a extensão de serviços à comunidade. Sob sua orientação iniciei minha Pós-Graduação, no curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias, e ainda por seu intermédio, envolvi-me, agora como docente, nas atividades do Campus Avançado da USP, sediado em Marabá, tendo mais tarde passado a coordenar o trabalho ali desenvolvido por acadêmicos da FMUSP.
Porém, com o ingresso na Pós-graduação da FMUSP, optei por abandonar o Curso de Ciências Sociais. Não me foi possível harmonizar as atividades profissionais com a necessária dedicação aos estudos em ambos os cursos simultaneamente. No entanto, meu interesse pelas ciências humanas nunca esmoreceu. O período em que frequentei a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP marcou-me pela riqueza do convívio com professores, tais como José Carlos Bruni, Marilena Chaui, Irene de Arruda Ribeiro Cardoso e pelas amizades que cultivei com colegas. Desse período talvez provenha meu interesse na pesquisa de determinantes e de repercussões psicossociais dos agravos à saúde, que pude posteriormente desenvolver na vida acadêmica, em particular no contexto da epidemia de HIV/Aids.
Dissertação: Estudo in vivo e in vitro da resistência do Plasmodium falciparum à cloroquina, amodiaquina e quinino. Orientador: Prof Mario Shiroma.
Vencer a inibição do "clínico" e partir para o intenso trabalho de bancada parecia inicialmente extremamente difícil. Entretanto, com auxílio da dra. Silvia Maria Di Santi, responsável técnica pelo laboratório de Malária na SUCEN, na ocasião instalado na Rua Cardeal Arcoverde, e com o incentivo do meu orientador, consegui completar o estudo, acompanhando pacientes com malária falciparum, internados na enfermaria do HC.
A experiência adquirida com esse trabalho fez-me compreender que não só seria possível conciliar minha vocação clínica com a atuação em laboratório, mas que ambas, na verdade, poderiam se tornar complementares. O contato com os pacientes serviria de estímulo contínuo para a formulação de indagações de cunho científico e para prosseguir na investigação das questões levantadas.

Por ocasião do doutorado, optei por um novo desafio — pesquisar as infecções causadas pelos vírus linfotrópicos de células T humanas (HTLV), ainda pouco conhecidas no Brasil. Procurei estudar o tema mais detalhadamente e, com tal propósito, participei em 1990, de estágio de três meses no Japão, promovido pela Japan International Cooperation Agency (CA), frequentando curso teórico-prático sobre o assunto, como bolsista representante do Brasil. Na ocasião tive a oportunidade de estabelecer-me na Universidade de Kumamoto, localizada em região altamente endêmica da infecção por HTLV-1 e lá conheci destacados pesquisadores do tema. Pude ainda frequentar as enfermarias do Kumamoto National Hospital e acompanhar pacientes com doenças hematológicas e neurológicas causadas por esse retrovírus humano.
Após minha volta ao Brasil, obtive do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP todo o apoio necessário para instalar no HC, em agosto de 1991, o primeiro ambulatório de assistência a doadores de sangue infectados por HTLV do país. Na verdade, essa viagem científica foi a primeira de uma sequência posterior de atividades desenvolvidas com o apoio de agências de fomento nacionais e estrangeiras, de que pude participar, envolvendo atuação em prestigiosas instituições de ensino e pesquisa do exterior.



Tese: Infecção pelos vírus linfotrópicos de células T humanas dos tipos I (HTLV-I) e II (HTLV-II) em candidatos a doador de sangue em São Paulo: estudo sorológico, caracterização molecular e isolamento viral.
Orientador: Cláudio Sérgio Pannuti.
Obtido o grau de Doutor em Medicina em 1994, procurei dar continuidade a minhas atribuições acadêmicas no Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, conciliando as funções docentes, com as atividades de pesquisador e de médico assistente, responsável pelo cuidado clínico de pacientes acometidos de enfermidades relativas à especialidade, sem descuidar da responsabilidade pela devida extensão de serviços à comunidade extrauniversitária. Muito mais do que um acúmulo indevido de tarefas, uma atuação dessa natureza para mim sempre representou a essência da vida acadêmica. Nela traduzia-se o reconhecimento da verdadeira missão da Universidade, que tenho buscado viver intensamente há 42 anos, desde meu ingresso na carreira docente.
Considero importante mantermo-nos permanentemente críticos em relação a nossa inserção social e profissional, buscando, nos momentos de reflexão mais aguçada a esse respeito, definir novas metas, aperfeiçoar estratégias e corrigir as falhas de percurso eventualmente identificadas. Foi esse o espírito que me motivou a pleitear, em 2001, o título de Livre-Docente em Doenças Infecciosas e Parasitárias. A tese intitulada "Contribuição ao estudo das infecções por HTLV-I/II com base na integração das atividades de assistência e pesquisa em hospital universitário" visou sintetizar o conjunto de minha atuação universitária, com o propósito de propiciar a avaliação da maturidade exigida de um postulante àquele título universitário.

Coordenador Científico do Núcleo de Extensão ao Atendimento de Pacientes com HIV/AIDS da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da FMUSP.





Registro fotográfico na companhia de Valéria Vilhena, bibliotecária da FMUSP e minha esposa.















